Machismo de homem que se recusou a decolar em avião pilotado por mulher revolta passageiros
Homem em Confins se recusa a voar em jato
comandado por mulher e é expulso do avião por agentes da Polícia
Federal. Ato de discriminação revolta passageiros e colegas da piloto
Mais de 100 mulheres pilotam aviões em todas as
companhias aéreas no Brasil, mas coube a Minas Gerais registrar o
primeiro ato de preconceito contra ma mulher atrás do manche de uma
aeronave desde que uma comandante feminina foi aceita pela antiga Vasp,
há 40 anos. Na sexta-feira, um passageiro do Voo 5348, da Trip Linhas
Aéreas, que partia de Belo Horizonte com destino a Goiânia (GO), com
escala em Palmas (TO), recusou-se a decolar ao saber que o voo estava
sob o comando de uma mulher.
O incidente ocorreu em um jato
Embraer 190 e segundo passageiros que estavam na aeronave, o homem, de
aproximadamente 40 anos, teria se rebelado contra o fato do avião ter
uma mulher como comandante. “Eu não voo com mulher no comando”, disse,
antes de ser expulso do jato. Depois do problema, o voo seguiu
normalmente seu destino.
Com receio de que o homem pudesse entrar
em pânico após atravessar uma turbulência normal, a que está sujeito um
voo com duração aproximada de uma hora, a comandante Betânia tomou a
medida de expulsar o homem da aeronave. Sob vaias, depois de atrasar o
voo, o passageiro foi convidado a se retirar do avião por agentes da
Polícia Federal, acionados por rádio.
A medida de segurança consta do regulamento
da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que prevê o desembarque
compulsório em caso de risco para os passageiros. Até agora, segundo um
agente da PF do aeroporto de Confins, essa medida só havia sido tomada
diante de ameaça de bomba ou suspeita de alguma pessoa estar
alcoolizados ou com problemas de saúde. Jamais por uma atitude machista.
“É o primeiro caso de machismo da história da aviação. Esse passageiro
deve ser um desavisado e não faz ideia de que nos Estados Unidos e na
Europa é normal uma mulher pilotando avião”, critica Gelson Fochesato,
presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, que ‘repudia
violentamente’ a atitude do passageiro. Ele revela que até mesmo uma
companhia de aviação dos Emirados Árabes tem uma brasileira no comando
de um Boeing 777, com capacidade para 300 passageiros.
“As
mulheres são até mais metódicas do que os pilotos e nunca saem do que
está escrito no manual. Não quer dizer que os homens são irresponsáveis,
mas eles são mais flexíveis”, compara Fochesato, de 64 anos e ainda na
ativa na Gol. Ele recorda que, mesmo nos anos 1960 as pilotos pioneiras
da antiga Vasp eram recebidas com festa pelos passageiros. A primeira
piloto da Vasp, a comandante gaúcha Carla, permanece atuante, contratada
pela Azul. Essa companhia aérea mantém uma aeronave pintada de
cor-de-rosa, com tripulação 100% feminina, em campanha contra o câncer
de mama.
“A empresa apoia a decisão da comandante Betânia e
inclusive encorajaria que ela se posicionasse publicamente a respeito do
ocorrido, pois ajudaria a quebrar preconceitos que ainda possam existir
em relação às mulheres em pleno século 21”, afirma Evaristo de Paula,
diretor nacional de marketing e vendas da Trip, empresa que conta em
seus quadros com 1,5 mil mulheres. Ele, no entanto, respeitou a postura
da comandante Betânia, descrita como uma funcionária séria e que teria
se mostrado incomodada com a inesperada celebridade alcançada com a
divulgação do episódio em sites na internet e não quis falar sobre o
assunto.
Por: Sandra Kiefer -
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